Quando Amanheceres o Sol
Quando amanheceres sol não temas
não quebrarás o selo da morte
ou a mágoa das estrelas mesmo que
pertenças à massa inerte do universo,
nem poderás preencher o peito da neblina
com as verdades que não são tuas nem minhas.
Não olharás para as altas vozes dos moinhos
nem brandirás espadas contra os sonhos
porque a linha elíptica do amor te fará receber no rosto os golpes
que intentas desenhar no olhar do mundo.
Não pisarás o regaço das flores aos pés do dia,
este terá a lisura reluzente das aves garridas
as penas secas enlutadas como esparsas rugas
o vinco das águas riscado em esmalte e vidro,
entre espadas entre risos lápides e sonhos,
faz-te inconstante como as marés de Junho
descobre vieiras nacaradas misteriosos búzios
na pia serena do baptismal perjúrio
pois nos teus adros jazem corpos amplos
este e aquele que trouxeste aos ombros e
descarregaste como quem desfere chumbo.
Jamais colherás o fogo dos hibiscos
porque as manhãs já nascerão magoadas
e os teus dedos ignoram a ciência dos menires
os segredos guardados nas ânforas da idade
tens a intemporal medida das crateras lunares
berço de morte dos primeiros sonhadores
e porém as asas do poema partem voam ardem
e os teus dias mentem enquanto as tuas mãos escrevem
verdade, quando amanheceres sol
não tem asa nudez dourada das musas que inventaste.
(Libe Lua)